rio de janeiro, favela, de alguémque não sei quem, achei no jornale salvei
A todas vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me a ponto final de um balanço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
Esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minha próprias vértebras.
Vladimir Maiakovski, 1915, tradução de Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
"Sinto um fascínio/prazer por esta comunicação que para mim é tão mais penetrante mais abrangente e simples que as palavras. Para mim até diria que é mais fácil, não me sinto como introvertido com o corpo em movimento, sinto-me mais a viver do que a pensar. Há um acontecer um agir um impulso que não encontro em verbos, escritos ou ditos.
Há muito bloqueio para contornar, espaços para criar, corpo a crescer, há sentidos para desconstruir, muitas conexões a estabelecer, há algo que me trava a escrita mas sei que não quero ser o mesmo de sempre, quero ver um diferente de sempre. O movimento esgota?"
escrita do processo de Gonçalo Pires na Formação Intensiva Acompanhada, da qual estou participando, no Centro em Movimento, Lisboa, agora.
segundo António Poppe, Tom Zé é a coragem de sair de si. vê-se que a música tem que trabalhar sobre ele para acontecer.
Advaita Vedanta -- culminar dos Vedas.
o Corão diz We are All Returning. "o Herberto libertou-me de Portugal."
*
não escutam. parece que vão condenar qualquer um que sinta intensamente, se perdendo naturalmente nas próprias sensações e nos comentários sobre elas. as pessoas não entenderam, não há escapatória, principalmente eu.
se mover-se é ter corpo, o que é que estamos fazendo quando parados? é que corpo inevitavelmente esbarra contra as coisas. corpo sai do lugar sozinho.
*
o concerto dos Calhau!
no dia em que fiz todo aquele drama
o concerto dos Calhau!
das coisas que acontecem atravessando
o eu, esse paetê.
*
o uso de tais estampas na indumentária de quem deseja ter rosto ou transformar a máscaraem rosto encontra-se num paraíso.
a psicodelia não exclui a libido. a proporção das músicas é espaciotemporal, com o nascimento de paisagens, espíritos, ou imagens fiéis aos segundos.
*
flores somos nós.
e dissecar o eu/ o eu/ à Europa/ tirai a roupa do eu/ do avesso isso do eu (?)
e se secar o eu/ o eu/ da Europa tirai a roupa do eu/ do eu/ do eu/ do avesso isso do eu(?)
*
o ego/ o ego/ o ego/ o ego /o ego/ oe go/ o eco/oeco/oeco/eoco/oeco
[...] vê como é belo e frágil o pensar daquela rapariga,
precisaria de um corpo mais sólido para sustentar a lealdade do olhar e não baixar os olhos perante o seu primeiro pensamento verdadeiro,
aquele que está a ter precisamente
viver é apascentar,
trazer, de novo, as imagens ao prado jubiloso
(p. 279)
não admira que, de repente, seu corpo se sobressalte, que o drama-poesia desça sobre ele num rapto, e que Baruch passe, em passos rápidos, pelo seu outro olhar _________________ não desvie esse olhar,
aconselho-a com suavidade
(p. 275) o que ali se passa é na parte velada do corpo que se passa,
digo bem ________________________ passa, parte, velada, corpo
e digo «é para isto que o texto serve», naquele corpo disperso
há partes e, entre elas, uma parte velada por onde passa,
está passando, neste momento escrito, um não-visível, passar
não quer dizer desaparecer, quer dizer
cria nele um passamento inexorável, imprime-lhe movimento, o movimento de passar, no tempo e no corpo, tudo partes transitáveis,
já não aguento esse braço a cair
do estranho homem na foto
estão queimando muita roupa velha no varal. explode uma nuvem de penas vermelhas e de repente esclarece a velha janela
as sílabas desalinhadas, as mensagens trocadas
as fotos todas de repente
no cara-livro cara pálida,
de repente, a explicitação das trocas vai nos levar a
2
bonita a foto
é de um ângulo que eu geralmente não me vejo
3
aprender português não é melhor do que
ouvir
frente a um outro garoto, cheio de vontade, cuecas limpas pra lavar
eu dizia no meio da loucura a música vai me direcionar
transborda
slevovitsa cachaça
de amêndoa? minha virilha sob a blusa a calça
e a maconha
bons drink
junto dum cara existente na claridade
ele faz fantasma de lençol, de papel,
um gráfico, uma parábola escondida com cálculos
esses de números
(i'm counting all the possibilities)
tchecos gritam na pista
delícia um lugar tão frio pra fora
música do perigo que há
no razoável
do chão
nesse, o vazio sou eu
não para ter a natureza
mas para descontrolar de novo
*
eu dizia no meio da loucura ai coração leviano, eu sempre soube chegar no limite, observá-lo, e nisso a língua terrivelmente chama-me louco, chama-me,
sempre soube, as outras coisas é que tenho em aprender,
com dificuldade de escutar
o mundo
dificuldade de acreditar na ação no mundo, ou seja, mim mesmo,
de entender algo que estava aqui antes:
um furacão solto no mar um vendaval
sem ninguém que lá grite
dá recados de como se portar à mesa.
*
"nada vai me alterar."
"eu tenho concentração perfeita."
"às vezes parece que nada altera."
"o silêncio vai direcionar"
"no final de tudo"
"um gajo de forma colorida e leve que se veste e"
"abre os botões da sua camisa."
sexta-feira, 6 de maio de 2011
does his makeup in his room douse himself a cheap perfume eyeholes in a paper bag greatest lay i've ever had
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
parece que as drogas interessantes, quando usadas com "moderação", a saber,
no modo de usar,
produzem um estado de não-objetivo, que, se encontra uma mente barrada à ação
poética
ao fazer
do instante
à mudez
conversante
ao destino
pobre da frase
se encontra uma mente obcecada pela organização das maneiras, e não pela forma como a organização é usada pela consciência,
a droga, que aliás pode não ser usada,
causa nessa mente um amor de primeiro estágio, ou ódio
o qual toma nessa consciência a forma de formigar negativamente, esquecendo-se
da altura
do som
do amor
do lugar em que ele jamais será julgado pela forma como vai embora e
dá lugar à aridez
as drogas interessantes
vêm todas de civilizações desérticas, ou excessivamente arborizadas
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
vem que o amor é o momento em que eu me dou
*aluciação*, você é um puta cara, já nem sei mais quem, estima feroz,
fora do quadrado ou tela
sábado, 29 de janeiro de 2011
foram mil acontecimentos
emocionais ao mesmo tempo
no lugar
assim, sentado, no lugar
o desejo mais mesquinho foi querer a vida já pronta
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
[...]
nunca ninguém desejou tanto ter na boca uma andorinha. Eu vejo-a, no telhado, a correr através delas com um relfexo de cobre, rasteja, espera, salta sobre o seu voo rasante; as asas delas, longas, pestanejam-lhes nos olhos,
tentam-se mutuamente; os seus bordos atractivos, no entanto, são mortais; Melissa, porque distraída, pode cair do telhado, e a andorinha, por se separar do ente criado do voo
e penso que é preferível não trocarmos de vestes com a paixão, guardar, talvez, a liquidez do apaixonado e encontrar uma arte de viver não coercitiva. Em Melissa, a liquidez não é transparente, deseja esses objectos móveis,
concretos e quentes, com a premência de viver o seu negativo, dir-se-ia
onde vais, drama-poesia?, p. 294
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
domingo, 16 de janeiro de 2011
sou forte sou por acaso
do fotografo Adenor Gondim.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
-
-
acho que a mania disse pra sair do quarto e depois voltar
procurando alguma coisa,
-
-
-
fui lá fora e tudo o que tenho é essa vontade de existir
futuros, essas ervas subindo no parapeito
-
-
criar
raízes
-
-
-
esperei que voltasse, mas sinceramente
a sinceridade é tão sincera
-
- esquecer
o que lembra não vem igual
é super diferente
-
lembra
muda a direção
agora
domingo, 9 de janeiro de 2011
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
coração
eh uma nuvem
(precisa de ver)
a nuvem flutua
na atmosfera do planeta terra,
uma bolha de protecao
q permite q
muitos corpos estranhos se queimem na estrada
entrada espacial
a atmosfera do planeta terra linha azul evolution
coração q permitiu um monte
ages e ages uma atmosfera propria para a vida,
cuja particular força de gravidade mantem portateis,
os copos se quebram facilmente, e tambem os corpos,
porque a gravidade eh fraca
GRAVE
a atmosfera do planeta terra eh diferente da de mercurio, q
todo esburacado e rasgado estah perto do sol
mercurio pequenino
saco de pancada veloz
os homens tristes dizem q nao ha vida
os homens felizes dizem q tudo eh vida
mas soh com a atmosfera terrestre podemos dizer, d modo q possamos parar, enquanto estah tudo se mexendo
no sistema solar, no digestivo
e no coração
e o sol eh o maior do sistema solar,
explodindo fogo no tempo.
explode coração.
quando uma casa pega fogo na terra, ela nao vai pro sol.
a terra, como os outros planetas, gira em torno do sol.
venus: atmosfera com muitas, muitas nuvens
venus foi considerado feminino por
antigos observadores a olho nu,
ciclo, constante, longa rotacao
brilha no ceu soh nao mais que lua
marte eh imprevisivel em claridade mais q qualquer outro
segundo os antigos eh masculino, fonte d excessos sexuais,
fisicamente, a atmosfera de marte
nao retem o calor do sol, porque eh mais delicada q a terrestre
coração
chama-se nuvem
na grande forte possivel
atmosfera
nao ha viagem q nao seja pra respirar
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
We are not human beings having a spiritual experience. We are spiritual beings having a human experience. Yogi Bhajan
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
você não é homem, meu bem,
meu bem, tem hora,
homem conserta bucha,
torneira aberta sem parar,
basta saber:
numa nuvem,
numa nuvem, encurralada,
quem permaneceria? a nuvem,
porque nao queremos ver quem se apresenta. e a torneira aberta?
diante do espelho nao ha nada material, nada pra pegar,
de modo que todos os videos frisem torneira aberta,
a torneira aberta eh geral. nao ha homem para dar.
mas hoje, pra q?
sombra roxa um e noventa e nova
trivialasa
tem que ser a vida, mesmo q nao haja assim muito dinheiro,
de forma que numa boa, numa esquina um dia,
de lado, se faca corta, ferramenta,
algum estranho deve haver, digo, a sua boa vontade. a boa vontade do estranho_
Oh, can't anybody see We've got a war to fight
Never found our way
Regardless of what they sayPortishead
não é
a maneira tresloucada de se mover
saltos, sal, sal,
-- não é --
rivotrio, fazmal, ou fluo,
excesso de mudez,
-- não é --
o mare nero, o mare nero,
alta fosse altura,
na garganta treme,
-- não é --
a minha vida fala, vai deixar falar,
como se ouvir fosse fácil,
um grito que vibra baixo,
ou não,
-- não é inventado --
continuamos felizes,
nuvem passageira,
eternamente felizes
em termos feito
esse tempo de planta,
até nas coisas mais banais
como as palavras
que fazem com que fique
muito claro
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
sinceramente, meu caro, essas nuvens de grude que arrumou na atmosfera quebrante...
farsando milhas pra dobrar você num origami
com material dos maiores produtores de papel.
esconde essa caça, tá de bordado,
difícil caber na palavra difícil o carneiro que exigiram.
na justiça. você tá é brincando de viver, maquiagem não é isso, bicha.
I mean, making a film is so scary and there's such a kind of void that you're working from initially. I mean, you can have all the ideas and be as prepared as possible, but you're also still bringing people together and saying, "Trust me", even when you don't necessarily trust every element. You're making something out of nothing and it requires so many people's collaborative efforts and participation that it seems like at any moment it could just fall through the cracks and be gone forever.
contente
dói de um modo fora do espaço
não tem pra onde ir
queria sumir
não ter que responder
acabei financiado
nada nesse meu coração derreteu com a verdade
a verdade ficou dura, como deve ser.
hoje eu na verdade sólida bati de cara uma bicha familiar
mentira, ainda não,
que se é sólida tem que doer mais ainda, não é,
pra que seja mais verdadeiro, não foi assim? titia e de repente me vejo
sem querer tesão, na cadeira
como se todo acontecimento fosse unicamente
dentro escuro elíptico
como se fosse possível ultrapassar a barreira do animado e
juntar todos os nossos cacos finos
jogá-los para o alto
(vento)
como se o humano fosse um vício, desperdiço,
grande Belo Horizonte não é um corpo definitivo? carcomido atrás disso
o que me carrega ou me carregou até agora
foram os espíritos da raiva dissimulada,
anos sem perceber,
ódio gratuito em relação à presença verdadeira,
altura e corpo e voz esquartejadas,
muita dificuldade em entender o porquê como dado obrigatório, carneiro
aceitei, eu acredito em tudo sem problema,
mas até aqui eu não sabia,
achava,
encontrava as coisas do mundo como objetos pra comer
espumas pra assoprar e perguntar tudo bem,
um tupperware desses no chão
em relação ao mundo geral
o ódio escondido
a vontade mista
do Império Particular: o mundo como a inexistência da brutalidade.
não escolhi o salvífico
antigo, antiga a dor portanto
brigar milênios
(meleca)
procurar o contente na dignidade
é novíssimo hoje
parece que não resta
fôlego e o universo, esse buraco
de boca aberta
domingo, 7 de novembro de 2010
escrevia um sonho que tivera__
os sexos não podem ser trocados. Era uma espécie de segredo metafísico. É possível, pensei, mas qual é a realidade que essa metáfora teme?
As imagens sabem que têm de caminhar para nós com o seu sexo de ler. Sem ele, são propriamente sem texto. Sabem? Sim, sabem. Utilizamos pouco o nosso sexo próprio para fazer. Utilizamo-lo, sobretudo, para sentir e sondar. Como crianças em perpétuo crscimento, nunca estáveis numa única imagem. O que sentimos fisicamente com o sexo que temos, o que as imagens vêm procurar em nós,
não é o sexo que praticamos,
é a vibração pelo vivo e pelo novo. Chamei-lhe fulgor porque é assim que sinto.
[...]
Falo de fulgor porque a falta de claridade é essencial. A escuridão é propícia ao medo, ao pensamento e ao projectar. O descoberto e o escondido confundem-se, trocam de rosto. Entram em simetria. Quando o meu há é todo o há que existe.
Viver com as imagens é a nossa arte de viver. Reparem, sem o seu fulgor não saímos da simetria. E nesta nada vemos. Vamos presumir uma saída. Veremos o que o nosso sexo sonha. E este sonha apenas a parte da simetria que lhe cabe. A outra parte pertence à imagem que vai tomando vida. Avançamos para ela e ela avança sobre nós. Esse movimento torna-nos obsessivos e inconstantes. Não podemos viver sem ele, mas a imagem não se mantém fixa. O fulgor desloca-se. Não podemos desejar o novo e querê-lo sem surpresa. Começa a irradiar do sexo e alteia-se. Do aqui evolui, difunde-se por todo o há que possamos admitir.
O desejo é escuro, diz Rimbaud.
Sujo, queres tu dizer, replica Aossê.
O desejo é divino, diz convictamente Hölderlin.
Dickinson pede silêncio. Que os homens tagarelas se calem porque, na extrema do jardim, emerge, ou parece emergir, uma nova imagem. Em seguida, o futuro corre para nós a grende velocidade. Há partes que se entendem, e partes aparentemente sem qualquer sentido. Uns lutam, outros acolhem. Com ou sem pacto, não creio que as imagens nos queiram bem (nem, aliás, mal) ou nos reconheçam. Não são aladinos. Mas caminhos (que eu sempre vivi como jubilosos e que, para outros, são angustiantes e tormentosos) que nos fazem ter corpo, este tempo, este poema na voz. O grão, entre todos reconhecível, da nossa escrita. Os poemas que oferecemos uns aos outros. O desejo de perfeição e de completude que lemos no que escreveram. [...]
A imagem surge no fundo do jardim.
É quase só negro, no início da perca de simetria.
Maria Gabriela Llansol, Onde Vais, Drama-Poesia?, p. 33.
estava aqui a pensar o óbvio. não há nada de exclusivo no antropófago, que é antes um sujeito que encontra a inteligência ao cozinhar o outro. cozinhar, diga-se, é preciso que seja saboroso, não é?
então, por exemplo, os italianos que fazem cada vez mais capoeira. imagino que a ginga se dê num espaço diferente do corpo,
e, entretanto, há tanto de identidade "antropófaga" que se recusa a ver aí um processo de deglutição, por ligar-se ainda a uma ideia nacional.
como se a identidade devesse estar assentada em um pedestal, ou numa pintura (ou mesmo em uma instalação pós-moderna, que o crítico disse intersocial ou intersensorial).
fixidez: isso é tão verdadeiro na leitura que fazemos dos modernistas, que apesar de tudo herdavam um futurismo que queria queimar os museus, não é isso?
BLACKOUT conversavacom Lucie na varanda da rua do Vale de Santo António, Graça, de repente a luz se foi, ó escuridão do Tejo, ficamos num mundo desiluminado feito século sei lá o quê e duas lanternas apareceram de janelas distantes, mas o que eu mais gostei mesmo foi a lua cheia e de repente um vulto vizinho na varanda à esquerda será que esse cara me viu assim meio em branco? um fantasma eu, a luz do sol refletindo na lua e a luz da lua refletida em mim ele pra mim um vulto negro semana que vem estou mudando de novo alô, vulto, eu sou o homem-mudança! muito prazer
esta é, assim, uma rua perfeitamente normal sendo anómala, um território sem fim onde, numa casa, me pus a pensar por cima dela;
penso
quando a noite cai,
e eu saio com a noite,
o que me faz passear surpreendendo-me com o facto nu de que o tempo intermitentemente se apaga, e o espaço cresce em mobilidade visível;
no meu passeio,
o espaço vai apagando o tempo, sua sombra vizinha, torna-se redondo ou contemplativo de si próprio, enquanto o percorro sem movimento, numa espécie de não ser, de não fazer; o não andar se instala, só há a mancha da noite como antes houvera a mancha do mundo, a nebulosa onde vou dar de comer aos gatos; desce sobre nós um enunciado positivo e real ______ a rua anómala, por me ver passar, derrama-se sobre mim, trocamos de inconsciência,
o texto a conhece, eu a desconheço, ambos a queremos; trocamos nossas formas que se dissolvem agora numa substância que sonhámos em permanência,
substância da dor de amor, outro nome do drama-poesia
porque o amor tem lados e tem dor, sombras vizinhas que convergem e divergem, uma dor que não nos socorre, e se afasta de nós;
andando, por carta ou por livro, dirijo-me directamente ao amor, interrogando-o
se a dor não é o preço desta rua,
destes olhos criados por uma certa densidade de luz,
às seis da tarde, quando saio
Maria Gabriela Llansol, Onde Vais, Drama-Poesia?, Relógio d'água editores, p. 302.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
revoando o fazem juntos
grupo inseparável amigos
eles por entre os edifícios
da baixa voando baixo
mais o vento
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
tudo tem confirmado que é preciso estar junto de uma forma que não é preciso estar no lugar.
o que gera a seguinte atitude de dúvida corpórea por que é que só os outros são tocáveis? eu lá quero ser imponderável?eu lá sou intangível?
está um calor marcante, como podemos sentir,
o computador esquenta a bermuda
tive medo sutil nas ancas
medo de concentrar
está um calor marcante.
estavam entrando lágrimas
para que tudo saísse fácil e voltasse à base
todos os dias tomar água
água no rosto.
o corpo a colore:
avermelho.
circulando
conversei com um homem
que tinha a força de contrariar
ele contava as datas nos dedos e conhecia as mortes,
expliquei que estive considerando o calendário, e a tarefa tornou-se impossível
nos caminhos dos seres conversantes, que tomam a casa
a casa por enquanto não existe, mas logo se vê.
não vou converter nada, pois
a tarefa é abrigar os seres ruidosos
diante da água,
^ cachoeira dos dias ^
que cai, me pesa e me enternece principalmente fria
quando o sol ainda bate no vidro
os banhos acontecem somente quando o sol se reflete no box.
DESPEDIDA
desplantado,
humildemente fotografo na terra as raízes
grossas, darrazão que se ergue solto, mas definido
diante do calendário
estamos numa frente sem curvas.
meus olhares desrespeitam qualquer frente,
miúdo adulto infinito privilégio
de encontrar homens que contrariam
cortando-se a própria fala
- - - -
vamos ceifar todos uns os outros
as falas cortadas, colheita
produzindo agora e,
voltando à virgindade,
o que jamais saberemos como velhos,
a glória nova.
as falas são plantadas para deixar o próprio largado
falar - deixar e ir dando -
sentir o calor que nos entrega
- pouco saberemos -
calor que estamos dando.
ficamos ou recebemos, ou o que se encontra.
ACHADOS E PERDIDOS
não desistimos, pois colheitas,
quietos são os homens que falam, olhá-los
produz folhas em volta
como uma árvore descoberta,
e muito de repente, sombra,
grande e certa.
Sorrow for letting someone else define you
Know who you are at every age
What impression am I making?
I see me as other people see me
There is no going back
I can't stop feeling now
I am not the same, I'm growing up again
I am not the same
I'm growing up again
There's no going back I can't stop feeling now
I had to fantasize
I was a princess, Mum and Dad were Queen and King
I ought to have what feeling?
I see me as other people see me
There is no going back
I can't stop feeling now
I am not the same, I'm growing up again
I am not the same
I'm growing up again
There's no going back I can't stop feeling now
Feeling Now
There is no going back, and
I can't stop feeling now
I am not the same, I'm growing up again
I am not the same
I'm growing up again
There's no going back I can't stop feeling now
I had to fantasize
Just to survive
I was a famous artist
Everybody took me seriously
Even those who did
Never understood me
I had to fantasize
Just to survive
domingo, 12 de setembro de 2010
me parece que, quando o corpo é colocado em prazer fluído, através da atividade que for, é possível desprender a parte que se colou ao pescoço dura de doer. mas é preciso que o prazer seja ritmado, e não contínuo.
relaxar o pescoço não será possível com a lucidez que gosta do ritmo reinante da coroa dos sujeitos. o ardido ocular pressentido atrás de certos óculos escuros.
o museu do design é um embuste, como se não existisse uma loja como o ikea, a Helena disse. ficou claro que o design de museus é feito para quem tem dinheiro. qual é a utilidade do museu, se o design tem que ser útil.
you call it freedom? i want more
olha, eu juro que isso estava pixado numa esquina da av. Liberdade assim, bem grande, em inglês.
voltando ao corpo, que todos usamos ou não, caminhávamos sobre um pavimento construído no século dezessete, por onde passa invisível antilusitano o rio Tejo. se ocorrer um terremoto, as estruturas são todas de madeira antiga que se partirá, levando o rio limpo até o Rossio.
uma vez, quando a Helena morava na Baixa, ali perto dessa praça, do Comércio, houve uma tempestade que fez o rio transbordar, esguichar dos bueiros,
muitas fontes. a água mais limpa, quando atua em grande quantidade como numa cachoeira, é ótima para massagear os músculos. quem diria que algo tão incolor e tão diferente ao tato faria uma coisa dessas. chega a competir com as mãos alheias, quando boas fortes.
para desprender a parte dura que se colou pescoço da cidade (estamos todos nela), as sensações ritmadas se repetirão de qualquer forma, seja qual for a sua natureza. gostamos de decorar as sensações para tirarmos delas proveito, repetir como uma criança a mesma história início fim over and over. então por que a massagem não é uma prática livre? a sua prática ainda parece relegada à autoridade de profissionais de natureza variada, quando isso não é verdade. por que é que receber tornou-se tão melhor que fazer?
ombro e pescoço são alcance das mãos ao repentino do guardado na pessoa. mãos, modernos alcançáveis.
+ as plaquinhas de EVA, sobre que escrevi, em versão playground da casa da VOVÓ.
o popular corte das plaquinhas de EVA apresentado acima se assemelha claramente a um produto indispensável,
é mesmo o formato ampliado de uma cartela de LSD,
só que sem os desenhos geralmente colocados pelos laboratórios clandestinos. o LSD,
delirando o sentido, pode ser uma afronta a uma fobia, com imagens vividas melhor do que pensadas.
os antidepressivos de laboratórios milionários não é que fazem milionários tomarem ducha fria
o ácido lisérgico
sim, uma ducha fria, o LSD,
e depois mais uma ducha fria,
tomará a ducha fria a medicina
o doce,
amplamente utilizado pela classe média brasileira, assídua do asfalto e grande admiradora dos automóveis. minha senhora,
tem muita viagem errada,
a garotada pula, o pessoal gosta
mas viagem errada é igual
esperar dentro do balão
que voando vai estourar
e cair
num monte de gente sem ver
que você está caindo
em pessoas do mesmo sexo
pessoas do mesmo sexo, gays
lésbicas e simpatizantes
no Brasil, as pessoas desse grupo social, digo, classe média, e também de outros, frequentemente atuam como se a sinalização para pedestres não existisse.
pessoas a pé, sem plano de saúde, que sonho vamos nós sonhar que nos sonhe?
qual possibilidade viável? o homem é grande, construtor, espontâneo, médico,
como podemos ver
AULA
colocar as plaquinhas de EVA
uma de cada cor na rua
e sair rolando por que não
rolar no dia-a-dia
dever de casa
crianças anotem
aí 1 estender,
2 agachar, 3
rolar o corpo na direção favorita
tirar foto
+
REUNIÃO
em vez de rolar na faixa de pedestre quando o sinal estiver aberto
vamos assinar o acordo acordeão acordem
pra todo mundo ver todo mundo rolando
pegando o corpo no asfalto as pessoas
ocupando a faixa de pedestre, já que
o pedestre tem corpo o pedestre vai ocupar
+
TV
por que não rolar no dia-a-dia?
as plaquinhas de EVA
amortecem ossos
que serão enterrados
farmácia não é cura
a medicina de que falo é do olhar
janela da alma é
seguir o que está vendo
a mesma imagem
é um bebê parto
como é que é
a parte do ser que nasceu será colocada
em praça pública quando atingir o grau de visibilidade adequado
na água
no poste público toda a fuligem será sugada e novas cores
irradiarão com o processo solar
a importância do contato com a água é conhecida em várias sociedades arcaicas. deixe o ser que nasceu inchar enquanto você se alonga
para recebê-lo. respire fundo e solte o ar.
lembre-se das suas células
estão todas juntas, é preciso arejar, conviver,
um com o outro, a parte do ser que nasceu
estará desenvolvendo uma cola pegajosa,
MATERIAL DE DESBOTAMENTO
tornou-se impossível experienciar o passado sem os gráficos,
p. ex. preto e branco, technicolor, lápis de cor, luz natural
tipográfica
bote fé e coloque umas folhas de arrruda fresca ao lado da parte do ser que nasceu.
o micro-organismo prolifera, dando continuidade ao chão.
AS RAÍZES
mostre as qualidades vivas da doença
mas isso não acontecerá sem quadril
não há quem não acorde mexendo
o quadril
chama-se autosugestão por meio de balanceamento
da dignidade febril e foi praticado por muitos mestres.
farmácia não é cura. se eu continuo o meu próprio ser,
no sentido de que nascemos juntos e tenho que ir na onda dele
até um ponto que cai,
se eu continuo como um galho, o que existe não sara
pra continuar
nessa coisa
a dança parece ser o que precisa o ser,
que tem partes. é muito importante levar isso
em consideração enquanto se baila
levar com cuidado o corpo junto da parte
do ser que nasce.
*
todo olhar que se curva
abre uma porta para ver
o chão
base de apoio constante da gente
muita angústia na alba e no crepúsculo
de tanto novo e de tanto novo que vai
vir aqui não foi fácil, amigos,
sou muito menor que mundo
eu só quero
me abrir
sabe uma janela fechada
o que resta são choques
naturais porque a natureza é sufocante, é sim chocante
cara
descobri uma erva que deixa pequenino
como um galho você se aproximará
das nuvens do chão
- conhecer seres novos, seja a cidade ou a pessoa, tirou-nos da necessidade de ser alguém coerente,
por isso navegadores portugueses
não viram a necessidade como um espaço em que se assenta, uma sala de espera
*
aulas depois, o caderno colado na parede a vontade de sair
me tirou da necessidade da coerência
que corrói
os veículos
locadora d bairro
gastos com o vídeo
vi de o vi de o vi de o vide o vi de o
o movimento de casa até a locadora
LOCADORA
ou voltando de algum lugar e
passando na locadora
LOCADORA
padaria
PADARIA
cachorro varanda ferro velho
FERRO VELHO
lixo
LIXO
escada pra subir
segurando a sacola dvd desconhecido
como um cachorro do vizinho
sinto muito UUUUUUUUUUUUU
sexta-feira, 16 de julho de 2010
sorrir ou não entrar
marcas escondidas
da sede de queixas
chamada social
na obscura correria do que enloquecidamente chamam
dia-a-dia - cega sentença de repetição despreocupada -
o corpo não descansa
vivemos os espaços
ou com o que ganhamos, a curto prazo,
ou com o que temos de sempre, nada a conquistar
além do nada que nos ama
como se nascer fosse bem depois
e viver fosse de nada
quando andamos por aí
pra dar e vender
o que agora vou dizer necessita da sua compreensão dos cajados
a derrubada do poder só se dá pela perda de fascínio com o pau
der
a existência de fascínio ao contrário com o pau
der do poder não vou dizer que não dói
ai
a existência de fascínio fascina mais que ainda
me lembro dos poderes encantados
esses dos namorados que requebram
com a existência de poder do pau
der
Escondeu-se para escrever; mas, antes, começou por ler no livro em que possuía a sua infinita felicidade permanecia no princípio, mas não tinha princípio; era o próprio princípio e, por consequência, não havia princípio; um no outro estava como o amado no seu amigo; e este amor que os une tem o mesmo valor que num e noutro, a mesma igualdade ao ler, apercebeu-se que lia de pé, em frente da sua estante a arte de conduzir o jejum distraído, [...] como esconder-se para escrever vamos deixá-lo escrever, disse o cavalo. [...]
Livro das comunidades
terça-feira, 1 de junho de 2010
o corte e a costura estão no nada que me gosta
trata-se de uma roupa ou convenção social que trata o corpo como uma forma
mas ninguém é feliz, porque ninguém considera o nada como um valor
o nada como um valor vai ser a mesma coisa
você é que não deixa
que a névoa seja fina para os brutos
que esse mundo atropele
= = = = =
a si mesmo
com uma névoa bonita pra caralho
a portuguesa de salto alto estende meio-dia a canga, com o taiê do escritório meio-dia hora do almoço se deita ao sol sobre a canga no jardim, que em português brasileiro se diz ontem, se diz praça se diz praça, meu bem tá?
quinta-feira, 13 de maio de 2010
"Parece-me que li mais durante as guerras do que noutros períodos, e não sou o único a quem isso aconteceu." Ernst Jünger
quarta-feira, 28 de abril de 2010
meu nome agora só pode ser de gritar para gritar
(adeus otávio)
exatos do que NÃO QUERÍAMOS vinte horas atrás
num quadro infinito vitrine sem foco
música só uma atrás da outra
*
tenho estado parado e andando, os dois juntos
na faixa de pedetre domingo com você
sete horas da manhã, voltando
nessa hora não tem ninguém na rua né
claro que rola
*
Lugar 9 -
Enquanto o urso entoava os prenúncios da Regra, Ana de Jesus, nos seus braços, cuidava em Pégaso, Copérnico e Giordano Bruno. Sonhava: pela porta entreaberta surpreendera Copérnico a meditar. Era o fim do dia, o sol entrara pela janela e pela janela partira. "E ao meio de tudo repousa o Sol", pensava Copérnico. Sonhava: sabia que era assim mas, naquele momento, via que assim era; dava-se-lhe a conhecer experimentalmente como se as ideias tivessem deslizado para dentro da casa e fossem a última luz que coroava os móveis; não tirava os olhos do pote de água que estava pousado no parapeito; parecia que tudo girava em torno do Sol, brilhante coração aberto; quando voltou a si, a sopa fumegava no prato e os monges guardavam em silêncio com as mão juntas assentes sobre a tábua.
Livro das comunidades
Visto por São João da Cruz, Coração do Urso sentou-se no gelo. Sendo apenas uma gota de sangue do cavalo Pégaso tornou-se maior do que ele, mais pesado.
Livro das comunidades
segunda-feira, 26 de abril de 2010
quinta-feira, 22 de abril de 2010
mas homem eles costumam não mexer
homem eles costumam não mexer, das janelas pela manhã observamos o ônibus passar, nada das portas pela tarde vamos ao supermercado ou almoçar, nada depois vamos à aula às vezes tem cinema às vezes caminhada mas o que eu gosto mesmo é de ficar olhando tudo, observando como as pessoas caminham indeterminadamente e ultimamente sem precedentes e como são calmos e como são bonitos os homens calados, com suas malas com uma aura as pessoas ocupadas fazendo algo de muito mais útil que o seu nas suas vidas as pessoas caminhando que nem a loucura calada de quem morre de medo essa aura, há também no computador sobre as teclas mas há nos parques, nas casas, nas panelas, nos shorts, bermudas, nucas, braços masculinos, rostos femininos, mãos fortes sobre o queixo
*
todo mundo manda tomar no cu
tomar no cu,
uma fórmula poetada justamente no prazer de subjugar um homem que se humilha com a explosão do prazer do que um dia
resolveram só para a mulher que coitada tadinha dela né
gritando que nem uma puta a bicha louca cabeleireira no meio da rua da cidade do interior caladoque nem um intelectual desses que não casam sobre a carreira com os olhos abertos - dança um pouco mais o menino e uns móveis de madeira atrás todo mundo brincava de esconder quando criança, rafael ditadoresdo imaginário filhos duma puta
para os garotos do i ching da rua do chão da feira
perdi minha cabeça onde está?
deve ter ficado lá
poder voltar
dar a volta
e voltar a hora
que quiser
é um bala vazia
sem gosto
como as esquinas
tentativas de dias de semana
em portugal a semana brasileira se tornou uma entidade da mitologia grega
eu sei que sempre dei valor ao sozinho como forma de profundidade - e escutar os outros era ser engolido por eles --
no estrangeiro a dor fácil da falta traz o que faltava
para ter prazer em escutar, ou pelo menos conseguir escutar
quando estava no meu brasil brasileiro, era estudante
e falava como quem se mostra,
não como quem se oferece
ou se coloca
para suspender a própria fala quando realmente
não há o que dizer
agora estou no brasil dos outros, êita
de novo há pouco o que ser mostrado
além do q querem ver
e isso é independente
um fluxo pragmático
uma fascinação pra forasteiro
pessoas a caminhar pelas ruas
a esperar no metro
o exotismo português
escancarado
para quem cresceu jogando videogame
meio sem querer aprender direito
só pra fazer uns movimentos
o silêncio escutado dessa visão diária
que nem câmera da prefeitura né eu dificilmente acho que estou perdendo alguma coisa
"não adianta construir avião se você quer andar por mar."
nazaré
quem disse que não existem famílias perfeitas?
mercedes-benz no jornal português
eu disse que não existe alguém que queira casar sem renascer e desaparecer em abril
não adianta ser casamento gay
é uma ave interna disponível
não salva os pais
eles nasceram
e como o filho tão nascidos
sem remédio para a nossa falta de vida, um dia
vou acalmar meus passos no quintal
a casa da minha avó foi demolida
passamos na frente do prédio feio de mármore novo
ao contrário do que se pensa o choro não é uma casa
podemos estar para sempre por aí
a família é uma clareira pequenina, irregular
os caminho convergindo no específico
prédio sobre demolição de casa construída em 1960 no bairro sion.
mamãe e bisa no museu de arte da pampulha, antigo cassino.
estive com uma dor de cabeça inimaginável esses dias, por causa de um estrabismo imperceptível é verdade. hoje consegui ir na clínica de olhos dr. arthur carvalho e me atendeu um senhor português que nasceu em campo grande no brasil. o sotaque dele era o nosso. ele perguntou se eu era de minas. morou em bh três anos até quando ficou impossível andar a pé na praça sete. hoje estou meio sem cidade, sem pátria.
ele colocou o colírio em mim, fez alguma piada e fui pra sala de espera.
comecei a chorar porque o sotaque dele era brasileiro. esperei com duas senhoras portuguesas, que me deram boa tarde. uma não conseguia enxergar mais com o olho esquerdo. conversavam sobre quando teria aquilo começado e foram chamadas pelo arthur. eu esperei mais, até quando começou a chover torto pela janela e vi uma goteira mais pro meio da sala.
ele me chamou para sentar, me receitou vitamina a, um remédio pra cabeça e novas lentes.
você um dia tem que vir aqui
um grande abraço
bê
ps. fui no médico logo depois de voltar da itália, onde um príncipe ganhou um concurso musical na tv.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
uma amiga minha perdeu o voo
tá bom assim, vou encontrar ela agora eu continuo certo de que quero mudar de curso. o estudo é não estudar. vovó disse no sofá.
-
maomé abriu o mar
morto mais de uma religião
budismo também é e tá sendo nossa, foi importante concluir isso, nós dissemos sobre a mesa.
introdução
intrigas: fui trocado pelos cereais
meus dias são feito
plástico e um caixão no meio do mato com as galinhas em cima
//
uma dor de cabeça
feita leitura a cabeçadas
agora se infiltrou espere um momento
agora
se influi
na questão acadêmica
eu não quero saber todo mundo tem que ser gênio dizem silenciosamente isso é polifônico
tivemos que fazer um acordo com o sobrenatural arregaçem as mangas
agora vamos sentir o momento amigos eu não posso
desenvolvimento
//////////////////
madama matisse, uma mulata
senhoras e senhores
essa tinha bruxismo. nem vem
que não tem,
tava mastigando.
conclusão \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\
eu não vou me enterrar na frente do computador.
falta muito ainda do trabalho, eu sei.
mas só enquanto enxergamos
essa areia lá longe na praça
por que não ver que o vento
também passa e conseguimos
perceber que se ergue
/////////////////
eu trabalho é sobre tudo
era sobre o absoluto
e o maior, e mais de tudo
que passava na tv fazendo filme
agora meu trabalho é disco
de quem se assenta pra dar uma olhadinha
na minha nossa, pra quê
é uma inteira alegria
____________________________
continuamos adolescência
fluorescente rica em flúor
lendo mesmo onde não tem, porque
a maior insatisfação é ler
com quem pretende
ensinar,
porque o que se gosta
não tem nunca saber
pra essa gente
reuniões e prêmios
como se nós
quiséssemos uma só câmera no mundo
///////////////
estive esses dias pensando que mudar de país são os olhos. é um contínuo olhar pros edifícios. olhas pras janelas das casas acesas, as janelas com estantes de livros, crianças e computadores ligados. as casas das pessoas que atendem o telefone e dizem estou em casa.
quero dar um passeio, e o que se vê, quando não se pensa principalmente como se fosse príncipio. quando influi em quem está olhando. isso, diga-se de passagem, são só dez por cento do corpo. o que gera uma necessidade de dar uma volta e depois voltar. lá haverá coisas calmas para serem vistas. lá haverá. por isso são passos na grama, agora. no asfalto, depois, na saída.
os edifícios não caem sobre quem olha. você treme com um pouco de exílio que tinha começado bem antes, como forma de participação. trata-se de uma participação nacional imperceptível, em que o filme é repetido quando se acorda e se deita e é fim de semana. os amigos é a minha juventude sexta e sábado.
essa ideia atrai: a cultura não é algo que possa ser preservado, já que depende do desejo das pessoas. cultura = contato. contato só com querer.
--- protegidas traições da conspiração cultura
- o que não está na moda pensando estar dentro dela
- o desconhecido no elevador
- aniversário esquecido
- resto de bolo
---
essas pessoas adornadas no exterior, na saída, no passeio
inventaram roupas
"obcecados com a ideia de centro",
disse a mari quando veio de visita
---
que contradição caminhar
quando estamos perdendo o que estava na frente
o que é ler? pode ser
continuar, pegar ou largar
---
o que é uma roupa? você já viu uma pessoa limpando a rua.
já viu?
---
essas carnes aguardadas com admiração.
---
VOU AMARRAR MINHA ÉGUA
---
marina rb, sem título, xilogravura bicromática, 2008.
sábado, 16 de janeiro de 2010
"eu sinto sempre que eu preciso acalmar um pouco."
explicação
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
"se aí tem poder feminino aqui tem sobrenatural"
julia
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
"se o caminho fosse noruega, portugal e brasil você estava ferrado simbolicamente"
carol
quer saber o que eu acho bonito de verdade na astrologia? é o uno estilhaçado que nem por isso deixa de ser uno. é o zodíaco ser simbolicamente tão disparatado e todotodo mundo ter esse disparate inteiro no próprio corpo e na própria vida. "somos iguais em desgraça".
[...]
isso é que eu acho beleza.
marcos visnadi, e-mail de sete de janeiro de dois mil e dez
hoje foi um grande dia de sol. peguei um veículo amarelo elétrico que me deixou em uma paragem inesperada. esperei consertar, mas não consertou. fui de metrô e no meio do caminho gritaram meu nome. gritaram meu nome pela primeira vez moro numa cidade que não é minha por perspectiva. assim, sem futuro ditador. o grito é dessa forma uma maneira alegre de boas-vindas. fui olhar uma piscina pra fazer natação.
aprovada. agora é acordar na hora certa, como sempre sozinho, e mais irrigação:
já cá estamos
sua mãe te deu
uma estadia de três meses
no paraíso de dona flor
e seus dois maridos
flower power e ambos
vão ficar aqui
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
V
Existia alguma coisa para denominar no alto desta sombria
masculinidade. Era talvez um cego escorrer
de sangue pelos anéis e flores do corpo.
Sei unicamente que era a força da tristeza, ou a força
da alegria da minha vida.
Herberto Helder, O amor em visita, "A colher na boca"
(livro publicado na obra completa "Ofício cantante")
"eu estraguei a reunião. e me sinto ótimo por isso."
mari di salvio lendo sinuca embaixo d'água
sábado, 2 de janeiro de 2010
All acts of insanity are the responsibility of the sane people, because the sane people are lazy and they could not spread wisdom through to the insane people, to give them some hope. This is how I look at it. Yogi Bhajan
na discussão de bar sobre texto, agradeço a deus, ainda bem que podemos contar com isso. o assunto que foi afastado ultimamente é: "o texto é sozinho quando te carregas", um verso muito bonito, proposto como valor positivo. não foi selecionado.
aí + ou -
pensei hoje que falar sozinho não é se carregar. assim, estar sentado, pra escrever, tem um peso. ele se reflete na bunda ou nos ísquios. esse peso, carregá-lo, é ruim, dói. é ter uma sensação de estar sentado . falar sozinho aqui é deixar que se torne outro, mas radicalmente. hoje vamos falar com a serra elétrica.
essa impressora aí em cima é o futuro do universo. toda intenção é inconsciente, não excluíram o desejo. li outro dia o amigo duchamp e guardei: arte é a soma que se faz da intenção do artista, que sequer ele sabe, com a de quem recebe, assim de coração. o coração aberto é por minha conta. não quero o inconsciente de fora do dia-a-dia.
-
a classe média brasileira lê o inconsciente Veja. ou: a classe média brasileira lê o inconsciente, Veja. gramática duas por 10 compre já. mas as cadeiras estão cheias de jovens que levantam a cabeça enquanto leem. cuidado com o excluído, vai voltar e puxar seu pé!
-
não quero entender o preconceito com a expressão "falar sozinho", quando vejo que ela ainda pode ser lida no mau sentido. não entendo o preconceito com o ato de falar sozinho, quando hoje se fala de performance ou dança ou artes plásticas no sentido lato como uma ameba se mexendo. o campo da performance ainda é totalmente desconhecido, o que essas pessoas estão fazendo de próximo escapa ao nosso performático. elas estão fazendo, elas não param. vamos VER NO QUE DÁ/
falar sozinho ou sozinho falar, o que se prefira, está sendo uma MUDA grossa de planta, veja-se MUDA como aquilo que cê carrega de um lado para o outro - balançando, veja bem -
sem rumo - mauro cerqueira
e a muda vira sempre outra pra poder dar pro amigo levar também pro quintal da casa. no quintal da casa tem os filhos do vizinho que brincam com os irmãos mais novos e algum adolescente que não quis fazer careta. em santa teresa, na cidade de belo horizonte, a vizinha deixa bolo em cima do muro que é pequeno. é muito diferente do sion, a poucos quilômetros dali.
-
retomando:
NÃO É INTRIGA PÔ
CÊ QUE VÊ
TEM UM BATER NA TECLA
QUE NÃO É VÊ É BLOCO
-
eu deste então que escrevi isso pensei em blocos. cheios de lados, mas inteiros. faziam o bloco sem serem partes - uma parte só pode ser separada.
foi mais de uma vez que escutei júlia de carvalho hansen dizer: EU QUERO É BOTAR O MEU BLOCO NA RUA. totalmente demais. a gaja, ela está falando na direção contrária do que diz protect me from what i want. isso nos faz um bem danado, como marcosvisnadi.
-
paulo nazareth também não quer se proteger. ele quer mais que chinelo: ele quer o pé. esse cara faz um apontamento a um delírio essencial sem acreditar em essência ou substância. uma planta de casa mesmo, fina pra ser projetada sem fim. uma arquitetura mundial que em seu interior permite o vai e vém dos chão.
-
o tradicional carnaval de rua deserta belo-horizontino. os blocos, é carnaval. teve uma hora que todo mundo saiu da rua deserta e foi pro caixa automático. veja o filme.
então voltando. então voltando. então voltando. volta então.
-
lados inteiros, porque bloqueiam. a parte separada está aí contrariada, porque é conjunta sim e não se arreda. podemos conversar sobre qualquer coisa, há sempre muito assunto.
-
com o povo do graveola e o lixo polifônico, digo que o mundo são papéis desencadernados. não quero o mundo, isso é absolutamente desinteressante e conservador. quero a muda. por isso vim a portugal. o graveola e o lixo polifônico no site disse: "conseguimos pela primeira vez cruzar as tortuosas fronteiras de nosso extenso estado pão-de-queijo".
ideia de separado lembra o clipe do foo fighters, "walking after you". eu via o clipe do foo fighters na sétima série, porque era o que passava naquele horário, pra não ter que estudar matemática: depois ficava com consciência pesada (aí era um clipe com a mesma música, "não estudei"). foi uma época assim como a modernidade.
a pessoa fica na cadeia da época, presa como refém de um sequestro de legitimadores. a banca da monografia da dissertação da tese. eu me sentia reprimido pela escola com donos de empresas & data producers dentro e fora da sala. não tinha recreio - tinha, mas eu não conseguia estar em recreio. era um mal-estar constante. llansol: "fomos às universidades, mas prometemos ficar calados".
será que se sentir enjaulado é desde o berço com telefone que avisa quando o bebê chora? é desde a mais tenra idade e eu nasci com isso?
carlos alexandre resume bem a questão das grades, vamos ouvir, é luxo. a marquise não chega aos pés de carlos alexandre, ele é monumental. vá para a cadeia. penso no graveola: "existo em você. um louco engano." são claramente os dois lados da canção operando uma superprodução. temos que ouvir.
o objetivo é a primeira música.
-
não é à toa a música eletrônica, é primitivista, mesmo que algumas pessoas vivam ela como a morte do imaginário (sem precisar gostar ou não, numa mania do neutro). por exemplo, há em dusty kid o desejo mais banal e corrosivo: mexer, trocar os lados sem querer com isso ser impositivo nas imagens, a parada só onde você estiver e ê sim.
é um grande modo de afloramento de várias paranoias imaginárias pela música. essa música permite vê-las de longe e dar tchau.
assim o último set dele aqui em lisboa. mas de novo dentro disso vão haver cerimônias. temos que estar preparados para saber receber isso de uma maneira calorosa, porque é importante. é um ato afirmativo eu quero. é um prazer. ninguém na buaty deveria ficar preocupado com isso. nós somos as pessoas que ficam paradas no semáforo, a buaty também tem luz vermelha, todo mundo viu, os sinais não enganam. se viver fosse, poderíamos estar fazendo isso tudo na rua com muito mais frequência?
por que o corpo deve sempre ser uma marca carregada de sentido?
por que devemos ser sempre decodificados? todo mundo sabe que os guardas dormem na fronteira.