quarta-feira, 24 de junho de 2009

me visto como eu me posso -- (mi puedo) é estranho como
há preguiça de roupas novas no armário

este armário ao lado
que o sol toca
quando não estou
deixo aberto
entra maldade
entra luz
entra poeira
menos roupa

sair para comprar algo
que deverá envelhecer novamente
tornou-se uma aventura
quero
roupas sem vitrine
brechós não-perfumados
sem virtude no preço

panos puros
sem cheirinho

impossíveis
ou a megastore xexelenta
ou a loja-conceito triste
precisando estudar filosofia

"tudo está longe, além-mar"
o preço da estética leve
mais leve ainda
oh que pena
vc não nasceu na europa
usa essa roupa no brasil
colônia pós-banho

e na rua, ao caminhar e esbarrar
as pessoas hoje secas nos olhos - -
dividas em partes pelo que vestem
parte de cima
parte de dentro
parte de fora
parte de baixo
baixo
pra cima
mais alto

as roupas entumescidas
a vista estrábica
oh as estações
rituais
transe

alguém elogiaria
diria imaginação
criatividade

veja esta calça
neutra
nera -
das profundezas do mofo
você cortaria
a etiqueta made in?

e diga-me, a blusa branca
o furo no peito
incomoda?
um bottom há dez anos
atrás

por que esse preto velho reprimido?
por que o laquê é usado só por alguns?
por que são todos iguais? especiais
originais
e as cópias
olhando pra eles!

casaco vinho
no chão da cozinha
blusa branca
cueca fina
cinto antigo
meia solta
cinta liga

no vazio do frio
a faxineira limpando
a passarela
passos na calçada
viaduto loja
mendigo moda conceito

comprar?
ganhei
emprestei
peguei
disse
achei
na casa do caralho
da dona baratinha

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