domingo, 11 de dezembro de 2011

A flauta-vértebra

rio de janeiro, favela, de alguém que não sei quem, achei no jornal e salvei
A todas vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me a ponto final de um balanço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
Esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minha próprias vértebras.


Vladimir Maiakovski,
1915,
tradução de Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman.


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